terça-feira, 3 de outubro de 2017

Censura às Artes - A Espada de Damocles contra o Metal


Por Marcos “Big Daddy” Garcia


A exposição “QueerMuseu” no RS teve seu tempo de exposição encurtado devido a protestos coordenados pelo Movimento Brasil Livre. A exposição de obras de José Saragoza de nome “Não Matarás” (em Brasília) teve a presença de membros da bancada evangélica por conta de uma denúncia de uma mãe pelo WhatsApp, que pretendiam interditá-la com liminar da justiça. A pintura “Pedofilia”, da artista Alessandra Cunha (conhecida como Ropre) foi apreendida em uma exposição em 13/09/2017 pela polícia em Campo Grande (MS), mesmo sendo uma exposição com classificação etária para maiores de 18 anos. O Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) fez a exposição “La Bête”, onde um ator aparecia nu e houve interação com crianças (apesar de ser também de classificação para maiores de 18 anos) no dia 28/09/2017. Todas elas possuem algo em comum: uma reação abusiva e absurda das pessoas, inclusive com pedidos de intervenção militar e de censura às artes em nosso país. Acusações de “incitação à pedofilia” e “incitação ao homossexualismo” surgiram aos montes nas redes sociais.

Arte da "QueerMuseu" acusada de incitar a pedofilia e a zoofilia.

Arte de José Zaragoza, considerada nu artístico pela bancada evangélica.

“Pedofilia”, da artista Alessandra Cunha.

Exposição “La Bête”, no MAM de SP.

A ignorância não é uma benção, e o pior de tudo é ver “headbangers” (sim, as aspas indicam ironia) fazendo o mesmo pedido!

Este autor já havia dissertado sobre isso anteriormente, mas minhas palavras aparentemente caíram no vazio e não atingiram seu objetivo. Terei que ser mais... Incisivo...

Primeiro de tudo, conceituação:

Arte: conforme a Encyclopædia Britannica, “Arte (do latim ars, significando técnica e/ou habilidade) pode ser entendida como a atividade humana ligada às manifestações de ordem estética ou comunicativa, realizada por meio de uma grande variedade de linguagens, tais como: arquitetura, desenho, escultura, pintura, escrita, música, dança, teatro e cinema, em suas variadas combinações. O processo criativo se dá a partir da percepção com o intuito de expressar emoções e ideias, objetivando um significado único e diferente para cada obra”.

Censura: do Novo Dicionário da Língua Portuguesa, “Censura (do latim censura) é a aprovação ou desaprovação prévia de circulação de informação, visando à proteção dos interesses de um estado ou grupo de poder”.

Desta forma, percebemos que o fato de censurar todo o bojo de informação que as artes nos proporcionam vem de uma parte das pessoas que deseja que algo fique oculto, seja por algum tipo de tabu, seja porque fere a moralidade de alguns, ou motivos ainda mais escusos e torpes. Historicamente, as artes sempre geraram (e geram) questionamentos, e no final, um objetivo primordial delas é atingido: a libertação da mente do indivíduo. O alvoroço é bom, apesar de tudo.

É óbvia a percepção de que o ato de censurar atende aos interesses de alguns, mas nunca de uma totalidade de pessoas. Logo, se vocês estão na parcela da maioria das pessoas que pertencem à classe que trabalha e sustenta um bando de políticos inaptos e/ou corruptos, e pedem a censura de volta, aprendam: eles enfiam essa moralidade de fundo cristão sufocante sua goela abaixo (moralidade esta que possui raízes no Brasil-Colônia, na Casa Grande e Senzala). Só que são eles na Casa Grande, e vocês na Senzala, comendo os restos que lhe são dados. E o pior de tudo: achando que os senhores de engenho os amam por permitirem que vocês possam acreditar nas mesmas coisas que eles. Viraram capitães do mato, ou seja, escravos que caçam e maltratam escravos Traduzindo: se orgulham da chibata que os fustigam e os deformam mentalmente. O orgulho vazio de serem escravos úteis ao sistema, que maltratam outros escravos, mas ainda assim, vocês continuam ESCRAVOS.

Escravos que batem em outros escravos continuam sendo escravos...

O Metal e todas as suas divisões são uma forma de arte degenerada, subversiva, e que faz com que os fãs comecem a pensar por si mesmos, a contestar o status quo vigente. Já foi assim, graças à herança que o Punk Rock e o Hardcore nos deram ainda no final dos anos 70. Mas algo mudou... Para pior!

Por falar nisso, por que cargas d’água os senhores acreditam que o Metal no Brasil floresceu nos anos 80? Por que o resto do mundo livre estava fervendo?

Não. Não é isso...

Basicamente, o processo de abertura política ainda no regime militar começa quando o General Ernesto Geisel foi eleito (em 1974), o que permite que muitas expressões musicais comecem a chegar por aqui, ainda que bem timidamente. Tirando o STRESS, que já era um veterano de underground quando lançou seu primeiro disco, “Stress”, ainda de forma independente em 1982, as primeiras bandas do país (especialmente no eixo RJ-SP) começam a dar os primeiros passos entre 1981 e 1983, e entre 1984 e 1985, discos importantes para a consolidação de um cenário são lançados, como os dois volumes da coletânea “SP Metal”, o Split independente “Ultimato” que trazia DORSAL ATLÂNTICA e METALMORPHOSE, o clássico disco “Live” do VULCANO (gravado em Americana/SP), e o Split “Século XX”/“Bestial Devastation” (do OVERDOSE e SEPULTURA, respectivamente). 1985 foi o ano do primeiro Rock in Rio, e coincidentemente, no dia 15/01/1985, uma quarta-feira (e dia do Metal no festival) Tancredo Neves foi eleito indiretamente o primeiro Presidente civil do país em 21 anos, desde o golpe de 64.

Ou seja: apesar da extinção oficial da censura imposta pelo Regime Militar só ser confirmado no lançamento da Constituição do Brasil em 1988, ela já deu sinais claros de enfraquecimento em 1985. Tanto que a novela global “Roque Santeiro”, cuja primeira versão foi censurada em dez anos antes, foi exibida em 1985. Ela não pôde ir ao ar na década de 70 por determinação do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), do governo federal, censurando a novela, e no dia da estréia!

Vejam nas imagens do documento abaixo alguns pareceres do DOPS. Todos podem ser vistos aqui.




Uma escuta telefônica feita pelo governo militar diz que Dias Gomes (autor da novela) adaptara com mudanças o livro “O Berço do Herói” para a televisão, visando enganar os militares. Para quem desconhece, “O Berço do Herói” é uma crítica de caráter humanista á criação dos mitos dos heróis, algo comum nos dias de hoje em termos políticos. Aproveito para citar que o Presidente Fernando Collor de Mello, em 1989, foi eleito pelo slogan de “caçador de marajás”, mas lhe faltavam argumentos e mesmo plano de governo. Mas foi eleito, justificando que mitos possuem forte impacto no consciente coletivo de muitos.

Da mesma forte que certos “mitos” que andam por aí, e “bangers” puxando o saco deles, caindo nessa arapuca de moralidade nojenta... É de doer os olhos...

Antes de tudo, a arte não tem que lidar com o que qualquer um acha belo. Relembrando: H. R. Giger fez trabalhos ótimos em pinturas que causariam nesses moralistas que vemos um verdadeiro enfarte. A tão conhecida arte “Satan I”, usada pelo CELTIC FROST para capa de “To Mega Therion” já causa convulsões nos mais puritanos. Outros tantos usaram mais trabalhos de Giger em suas capas, algumas tendo problemas severos, como o DEAD KENNEDYS com “Frankenchrist”. Já doou seus discos do CELTIC FROST e do DEAD KENNEDYS? E já que falamos no CELTIC FROST, esqueceu que a capa de “Apocalyptic Raids”, do HELLHAMMER, lá está um capiroto com a chibata de fora?

Por que usaram justamente estas artes, que mexem com as pessoas mais puritanas, como capas?

Se você pensou que foi para ofender, errou feio. A arte visa, muitas vezes, chocar aquele que a observa, ainda mais quando ela enfoca ou o religioso, ou a nudez, ou ambos de uma única vez! Ela te choca e te faz pensar, e pensando, você acha a liberdade uma hora ou outra, a liberdade mental, a autonomia de pensar como bem entender. Logo, não verá mais um capiroto usando um crucifixo como estilingue, mas uma interpretação mais profunda, partindo da pergunta mais legal que possa existir: “por que fizeram isso?”, e as inúmeras respostas representam conhecimento.

Olhem uma das artes da “QueerMuseu” e a arte da capa de “Apocalyptic Raids” e de “To Mega Therion” e pensem bem do que está reclamando!

“Jesus/Shiva”, da exposição “QueerMuseu”.
Capa de “Apocalyptic Raids”. Detalhe no pênis do sujeito, e você reclamando de uma exposição de artes...
Arte de H.R. Giger“Satan I” usada como capa de “To Mega Therion”.

Um fã de Metal que pede pela censura e pelo retorno dos militares ao poder, antes de tudo, é um ignorante. Sim, ignorante, pois mesmo com todos os erros, melhor uma democracia que pode ser acertada com o tempo a uma ditadura que nos leva à estaca zero. E cada vez que o Brasil tem um golpe, a estaca zero desce mais e mais... Logo, torno a afirmar que a ignorância não é uma benção!

Ah, sim, vocês falam que as artes estão incitando a pedofilia e a homossexualidade (o termo “homossexualismo” é errado, pois conota doença, e a doença que realmente existe chama-se “normose”, a mania de querer “ser normal”)... Bem, óbvio que a escola poderia ajudar nisso se ela pudesse falar em educação sexual e outros, algo comum nos países de Primeiro Mundo, mas que as forças contra produtivas da moralidade exacerbada fazem com que este conteúdo fique de fora da ementa escolar em nosso país. Afinal, sem educação sexual, não há controle de natalidade. E quanto mais pessoas nascendo, maior o número de escravos disponível pelo menor salário possível, maior o número de jovens que engravidam e nunca irão às universidades (e não concorrem com as meninas da elite), e maior o número de dizimistas nas igrejas...

Mas por que a nudez que os incomoda tanto?  Vocês nasceram vestidos?

Em um país onde o carnaval é a maior das festas populares, onde programas de Reality Shows de TVs abertas exibem tanta nudez (e inúmeras tretas), em que muitos têm que viver da prostituição, e você, “fã” de Heavy Metal, que já deve ter visto mais androginia e nudez quase que explícita em discos, ainda tem esse preconceito bobo? Antes da existência das igrejas, a nudez sempre foi vista como algo sagrado entre pagãos, e nunca algo vergonhoso. Vergonha deveria ser a corrução política de muitos, e a simonia de tantos outros. Se for assim, saia do Xvídeos e do Redtube, bem como deve apagar as imagens de mulheres nuas de seu celular ou HD. 

Pagada de peito no BBB. Disso nenhum moralista reclama...

Mas OK, falemos da questão da pedofilia. Eis aqui alguns dados estatísticos entre 2006 e 2014: http://www.childhood.org.br/numeros-da-causa

Conforme estudos realizados, pais, tios, irmãos, primos e outros parentes constam como os maiores acusados em termos de abusos contra crianças e adolescentes. Quase sempre, o pedófilo é uma pessoa próxima à criança. Podem estar em qualquer classe social. Um pedófilo pode ir a uma exposição de museu? Sim, como também pode ir a uma igreja. Não existe ainda uma caracterização plena do perfil de um pedófilo. Não existindo este perfil, não é possível afirmar se ele iria a uma exposição de museu (que, aliás, vivem vazios), mas pode ser que vá à um igreja (que vivem cheias).

Mas já não é novidade que o número de casos de pedofilia em instituições religiosas é altíssimo. No Brasil, os escândalos com líderes religiosos das mais variadas denominações chamam a atenção nos jornais vez por outra. Não estou dizendo que exista uma correlação estatística entre pedofilia e religião, mas estranho que NUNCA LEMOS NADA sobre pedofilia em termos de curadores ou frequentadores de exposição de artes, mas em termos de religião, sempre surge uma denúncia (não são feitas como deveriam porque além da religião ser um fator preponderante para eleições, as vítimas tem medo de fazer a denúncia devido à possibilidade do agressor as machucar).

Padres, pastores, muçulmanos, testemunhas de Jeová... A lista é enorme, e conforme palavras de um famoso advogado que constava na Wikipedia (e que desapareceram, sabe-se lá por qual motivo), “diga-me a denominação e eu lhe direi que já defendi alguém dela contra acusações de abuso sexual contra crianças”.

Logo, se levamos estes pontos em consideração, podemos alegar com certeza plena que uma exposição de artes de temas polêmicos não teria relevância no número de casos de pedofilia. Sinto muito, mas a estatística e a verdade estão ao meu lado: é mais fácil ser pedófilo em ambiente onde a Bíblia é um livro sagrado do que naqueles onde “Satíricon” de Petrônio é lido e compreendido...

E aproveitando que falamos em “Satíricon”, podemos agora abordar a questão da homossexualidade: somente um alienado IMBECIL sem mente alegaria que uma exposição de artes seria incentivo!

Para fins científicos, a homossexualidade não é uma doença para merecer uma “cura”, não é um distúrbio comportamental, não é doença mental, não é nada disso. Conforme a Wikipedia, “Homossexualidade (do grego antigo ὁμός (homos), igual + latim sexus = sexo) refere-se à característica, condição ou qualidade de um ser (humano ou não) que sente atração física, estética e/ou emocional por outro ser do mesmo sexo ou gênero”, e o assunto já foi estudado ad nauseam por cientistas de renome. Em um artigo, se comprova que mais de 5000 espécies têm essa mesma característica, entre aves, mamíferos e outros.

Aliás, sobre ser doença ou distúrbio, no Brasil, em 1984, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) posicionou-se contra a discriminação e considerou a homossexualidade algo que não prejudica a sociedade. Em 1985, a ABP foi seguida pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), que deixou de considerar a homossexualidade um desvio sexual e, em 1999, estabeleceu regras para a atuação dos psicólogos em relação às questões de orientação sexual, declarando que “a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão” e que os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e/ou cura da homossexualidade. É o que aquele juiz quer reverter, mas sinto muito: Direito não estuda essas coisas, logo, não é da alçada do mesmo.

Pé de cal nessa consideração BURRA de homossexualidade como doença: no dia 17 de maio de 1990, a Assembleia-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da sua lista de doenças mentais, a Classificação Internacional de Doenças (CID), e desde então, esta data é celebrada como o Dia Internacional contra a Homofobia. E em 1991, a Anistia Internacional passou a considerar a discriminação contra homossexuais uma violação aos direitos humanos.

Se não é doença ou algo comportamental, como pode ser adquirido ou induzido?

O oposto já foi tentando, a busca por uma “cura”: as tentativas de cura são muitas, como as fogueiras da Santa Inquisição, os que são mortos cruelmente em países muçulmanos, e mesmo a Alemanha nazista tentou isso! Muitos perderam a vida e foram maltratados com uma crueldade que beira o sadismo, se não ultrapassar. Indico que leiam o testemunho de Pierre Seel, um sobrevivente do campo de concentração de Schirmeck-Vorbrück. É de doer o coração de qualquer um que tenha sentimentos humanos em si.

Por falar em Alemanha, os fãs de Metal “bolso-chatos” parecem nunca terem lido a letra de “Side By Side” do KREATOR, um manifesto explícito contra a homofobia. Ok, aguardo as doações de discos da banda, ok?

Agora, chegando a esse ponto, quero compreender duas coisas claramente:

1. Se a maioria dos casos de pedofilia não tem nada a ver com frequentadores de museus (mesmo porque traçar o perfil social de um pedófilo até o momento não foi possível), mas vemos uma prevalência de casos entre várias denominações religiosas (em especial as cristãs), de onde cargas d’água tiraram a ideia obtusa de que a arte incentiva à pedofilia? Vossa alegação não faz sentido algum.

2. Se a homossexualidade não é doença ou algo comportamental, não tem como uma exposição de arte induzir as pessoas. Ou seja, o segundo argumento também é falho, carece de qualquer motivação que não seja a estupidez conservadora. Logo, por que insistem em acreditar nisso?

Não há relação alguma entre pedofilia e/ou homossexualidade com as artes. Mas como cito de forma mais subjetiva e irônica, líderes políticos conservadores e religiosos fanáticos ganham audiência, votos e dízimos alimentando o ódio mútuo. Um tipo de ódio que está permeando o Metal.

Design de uma camiseta do MARDUK.

A democracia brasileira, apesar de seus problemas, é bem jovem. Tão jovem como o cenário Metal do Brasil, que possui similaridades com a primeira, especialmente na desordem e na polarização de lados (sim, se repararem, verão que são situações muito semelhantes), e ainda estamos imersos no conservadorismo de origem religiosa que existe no Brasil. Mas uma enxurrada de arte degenerada já deveria ter tido o efeito do cloro em sujeira: lavado tudo isso.

Mas não. É triste ver headbangers bradando contra outras formas de arte. Se o Metal nos ensina a pensar, as artes plásticas também têm esse efeito. Por que insistem nesse papinho de conservador que não é digno da música que ouvimos?

Aliás, do que vocês têm tanto medo? Por que a arte, bem como a nudez, os amedronta? Nunca viram uma Playboy ou uma Sexy na vida? Não mintam, pois sei que sim...

Design de Kris Verwimp para uma camiseta do ENTHRONED.
A única motivação que vejo nesse ódio: nós todos vemos/ouvimos frases imbecis de alguns militantes radicais de movimentos sociais, e muitos desejam dar uma resposta aquilo. Uma resposta de mesma intensidade, mas no sentido oposto: um radicalismo contra as militâncias. Mas o radicalismo de posições políticas nunca ajudou ninguém na história da raça humana. E censurar algo não os levará a nada.

Ainda: vocês já viram tantas capas e letras que são de arrepiar o pior dos conservadores, e querem ficar do lado deles?


 

Vocês estão sendo tão tolos que acham que o Rock, mais especificamente o Metal, não será o próximo na fila de censura...

Acha que a fúria conservadora e preconceituosa de parlamentares como Feliciano, Malafaia, Bolsonaro e outros não se voltarão contra as capas de discos, camisetas, letras e formas de arte que o Metal utiliza? Acha que vai conseguir importar discos com aquelas artes chocantes em um país de caráter conservador? Que vai poder ouvir sua música abertamente, sem que a polícia bata na porta da sua casa? Eles vão destruir todos os seus discos e camisas de bandas como MÖTLEY CRÜE, CRADLE OF FILTH, MARDUK, DIMMU BORGIR, IMMORTAL, MANOWAR, MEGADETH, SLAYER, e se acharem algo do BLACK SABBATH ou IRON MAIDEN em sua casa, ai de ti: as fogueiras da Nova Inquisição ou os fornos dos novos campos de concentração o esperam. Se apedrejam uma menina praticante de Candomblé, destroem centros de Umbanda e Candomblé, querem censurar tudo que não seja da fé deles, o que acha que vai acontecer conosco, e mais diretamente, com você?

Print do Instagram de Moysés, do KRISIUN, quando a banda foi presa em Dhaka, Bangladesh, junto com o NERVOCHAOS.

Refrescando a memória de cada um: lembram-se da preocupação e agonia que passamos quando o KRISIUN e o NERVOCHAOS foram detidos em Bangladesh esse maio desse ano, sob a acusação de serem “satânicos”? Sim, o lá era um país muçulmano, mas CONSERVADOR, a ponto da religião se meter no estado (em uma estranha ironia, Bangladesh, assim como o Brasil, se diz laico). E não esqueçam uma coisa: Islã, Judaísmo e Cristianismo partilham o mesmo útero, a mesma origem, e quando as vertentes destes chegam ao conservadorismo, é este o resultado.

Aliás, já está acontecendo: no dia 19/09/2017, o deputado Marcos Feliciano propôs o Projeto de Lei PL 8615/2017, visando “obrigar as exibições ou apresentações ao vivo, abertas ao público, tais como as circenses, teatrais e shows musicais, a indicarem classificação indicativa adequada às crianças e aos adolescentes e proibir que a programação de TV, cinema, DVD, jogos eletrônicos e de interpretação - RPG, exibições ou apresentações ao vivo abertas ao público profanem símbolos sagrados”, logo, os bolso-bangers e moralistas de plantão conseguiram: vocês colocaram o Metal na alça de mira da censura. Óbvio que muitos não vão ter a maturidade de assumir as cagadas que fizeram espalhando ódio às artes no Facebook. Mas a culpa é de vocês, se bem que aceitar os erros que cometem e tentar corrigi-los é um ato de pessoas que pensam além da caixinha, seja ela no sentido figura ou aquelas de ofertas e dízimos...


Captaram a mensagem? Entenderam o que eu quis dizer agora? Seu ódio às artes jogou a todos nós na mira dos aliados do seu queridinho bolso-lixo!

É simples quererem censurar a arte de outrem porque vocês não gostaram ou nem ao menos entenderam (ou sequer se deram ao trabalho de procurar saber o que elas representam), mas se eles se voltarem contra aquilo que vocês gostam, o que farão? Vão ficar de mimimi na internet, se é que lhes permitirão chegar a tanto (vai existir controle aos conteúdos nas mídias sociais)? Ou vai virar um ultraconservador e cuspir naquilo que diz gostar? Se o último lhes agrada, sinto muito em dizer, mas vocês estão doentes... Doentes com uma síndrome terrível: normose, a mania de querer ser normal.

Em suma: a arte sempre mexeu e continuará mexendo com a mente das pessoas. É da natureza dela, e nós, bangers, somos a prova disso. Desde que o Metal surgiu, os conservadores querem nossos fígados a qualquer preço.

Agora, aviso-os de que se vocês optarem por tomar o caminho conservador, o que é vosso direito legal e não questiono, não sejam hipócritas: deixem o Metal para trás, bem como o Punk Rock, o Hardcore e adjacências, assumindo que foi uma fase de suas vidas. No fundo, o estes estilos se alinham aos excluídos de uma sociedade baseada em “moral e bons costumes”, o que você parece não conseguir compreender. Óbvio que existem músicos de Metal que são de vertentes religiosas conservadoras, como Dave Mustaine, que se posiciona de uma forma em que não apoia o casamento homoafetivo por conta da religião dele. Mas creio que agora que os EUA, desde 09/07/2015, tem a legalidade do casamento entre pessoas do mesmo sexo, ele esteja quieto. Por lá, as coisas são diferentes no tocante aos direitos individuais: você pode não gostar ou concordar, mas é obrigado a respeitar. Sim, OBRIGADO, pois respeito mútuo é um dos pilares de uma sociedade democrática saudável.


Nesse cenário de debates e luta, eu já tomei minha decisão: irei permanecer ao lado daqueles que a sociedade dita “normal” odeia. Fui e sou odiado por ela, logo, tenho estima e apreço por todos os párias de uma sociedade baseada na “moral e bons costumes” e na “família tradicional”, e não uma aliança por convenção. E, concomitantemente, optei em deixar que o ódio fique apenas do lado dessa sociedade e dos defensores do status quo. É a ferramenta deles, não a minha, logo, não recebo ou me alimento esse veneno.

Sou um Headbanger das antigas que foi aprendendo mais sobre muita coisa conforme o passar dos anos, mas uma coisa continua a mesma: que se você é fã de Metal, Hardcore, Punk Rock e outros, você pode viver dentro da sociedade, mas o preconceito sempre existirá contra nós, como acontece com a comunidade LGBTQ, com as mulheres, as etnias menos favorecidas, os praticantes de religiões não-cristãs, e contra todos os ditos “anormais”...

E como mostrado no texto, o Metal está na alça de mira, logo, se você é um Headbanger MESMO, proteste, diga algo, mande e-mails para deputados que não são da bancada evangélica, DÊ VOZ A SEU DESCONTENTAMENTO, nos shows de suas bandas, conscientize os fãs da necessidade de proteger o estilo que amamos! E como eu disse: se você não tem esse amor pelo Metal em si maior que seu conservadorismo, o Metal e o cenário não são para você. Saia e nos deixem lutar pelo que amamos de coração!

E finalizando: abaixo deixo a explicação do MAM e um texto ótimo da Mestra em Educação Caroline Arcari sobre a questão da exposição “Le Bête”. É bem elucidativo sobre o que ocorreu na exposição, e responsabiliza diretamente quem deve ser responsabilizado.



“Lado a lado
E se a morte for o preço
Ou o sol não mais brilhar
Eu estarei ao seu lado
Lado a lado
Para a eternidade e além
Lado a lado
Enquanto destruímos a homofobia
E não deixaremos que a vergonha
Enregele nossa visão
E eu continuarei ao seu lado...” (KREATOR - Side by Side)


Almas mascaradas e mentes negras, mandrágoras das trevas
Piche e veneno nas veias deles, eles tem a marca do Mal
Corrupção, ódio e o mais profundo escárnio é o que eles ensinam
“Obedeça e trabalhe!” é a lei sagrada que eles pregam!

Eles venderam sua alma, sua carne e sangue aos desejos de deuses do mal
Eles transformaram o mundo em um inferno na terra para manter seus planos malignos
Com assassinato, guerra e traição eles governam
Se você confia nas maquinações deles, VOCÊ É UM TOLO!

Eles governam o mundo através de mentiras
Pingando veneno em seus ouvidos
Mantendo as aparências, a revelação é o medo deles
Eles controlam sua mente com ódio e mentiras malignas
A religião é o demônio disfarçado!

Então abra seus olhos nublados, e verá a conspiração
Se você expulsar o mundo maligno deles
Existe uma chande de viver livremente
Os contos antigos dizem as regras sagradas: a VERDADE!
Então esteja atento ao que eles são e ELES IRÃO PERDER!”  (RUNNING WILD - Masquerade)


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